Migrantes amazônicos : Rondônia, a trajetória da ilusão[1]
Por Jaqueline Antunes Damaceno[2]
O livro, “Migrantes amazônicos – Rondônia, a trajetória da ilusão” (1992), publicado pela pesquisadora Francisca Francinete Santos Perdigão juntamente com o sociólogo Luiz Bassegio. Neste volume, a autora descreve a história da ocupação na região amazônica no início da década de 70. A obra destaca no decorrer de sete capítulos, as ações políticas da colonização projetada pelo governo brasileiro a partir dos projetos de abertura e construção da BR-364.
A ordenação dos capítulos dá coerência ao contexto histórico apresentado por Perdigão que se constrói com o objetivo central do livro: descrever e denunciar o trabalho escravo na região. O livro composto de sete capítulos apresenta relatos e informações que impulsionaram o crescimento da região noroeste do País.
No primeiro capítulo, a autora faz um breve relato sobre os povos indígenas e ribeirinhos que ocupavam o estado de Rondônia antes do período do intenso fluxo migratório. Estes grupos permaneciam exilados em suas comunidades e aldeias e invisíveis aos olhares do governo central do Brasil. São comunidades que viviam em harmonia com o meio ambiente, com base em suas culturas e costumes. No mesmo capítulo, a autora ainda traz um pequeno relato sobre a presença de Marechal Rondon, reconhecido pela história oficial como o grande desbravador da região noroeste e da implantação de linhas teleféricas.
No segundo capitulo, Perdigão analisa o perfil da entrada do capital estrangeiro e nacional em Rondônia. Discorre sobre as mudanças ocorridas com a chegada das indústrias, o regime de novo sistema político e, consequentemente, a inserção de novos projetos de colonização. A política de migração adotada, na época, pelo governo federal transformou drasticamente a paisagem socioambiental na região. Para incentivar o fluxo migratório, foram feitas promessas de geração de novos empregos, distribuição de terras para plantio e moradia para suas famílias.
Já no terceiro capitulo, a autora faz uma síntese contextualizada do processo de realojamento destas pessoas para o estado de Rondônia. Neste período, o INCRA iniciou sua atuação como órgão responsável pelo assentamento dos migrantes. A partir da implantação do sistema de colonização da Amazônia, lançado pelo governo na década 70, outros programas foram criados como: projetos integrados de Colonização (PICs); Projetos de assentamento Dirigido (PADs) e o Projetos de Assentamento Rápido (PARs). Estes projetos contavam com a participação e o financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) responsável pelos empréstimos feitos para a construção e abertura da BR-364.
No capítulo quarto, Perdigão examina a história dos trabalhadores que vieram para Rondônia através do sistema de colonização. Eram pessoas atraídas pelas propagandas governamental, que utilizavam o slogan “A terra prometida” “O novo Eldorado” para incentivar suas vindas para o norte. A migração no estado de Rondônia aumentou significativamente e, com isso, surgiram os problemas sociais, econômicos e ambientais que exigiram novas políticas públicas na região. Com a esperança de serem donos de suas terras, chegavam ao estado trabalhadores de todos os cantos do País, principalmente, do Sul e do Sudeste. Infiltravam-se na densa floresta, sem o conhecimento de que aquelas terras já estavam ocupadas por indígenas e ribeirinhos.
Porém, as promessas feitas pela propaganda governamental não foram cumpridas e os migrantes foram expostos às condições subumanas. Para muitos, as terras recebidas não eram adequadas para o plantio e a infraestrutura necessária para o assentamento não foi efetivada adequadamente.
No decorrer do quinto capítulo, Perdigão proporciona ao leitor o cenário das problemáticas enfrentadas por aquelas pessoas e ressalta o trabalho escravo existente. Para sua análise, a pesquisadora apresenta dados levantados como pesquisas registradas pelas entidades e órgão competentes, além de várias entrevistas e histórias narradas por pessoas que trabalharam naquele regime escravo.
No sexto capítulo, a autora faz um levantamento histórico apresentando alguns registros na qual podemos verificar as primeiras tentativas da ocupação e explorações na região amazônica a partir de 1616. A escritora ainda acentua outros fluxos migratórios sobre a penetração nestas terras, tais como a construção do Real Forte Príncipe da Beira no século XVII. Outro resgate histórico de grande importância para Rondônia é a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cujo projeto trouxe a primeira comissão das linhas telegráficas comandada por Marechal Rondon (1865-1958).
Por fim, no último capítulo, Perdigão apresenta os recentes projetos governamentais que, com os mesmos objetivos dos programas da década de 80, se utilizam de artifícios de propaganda para promover novas implantações de projetos que gerariam empregos, como o caso da usina hidrelétrica Samuel localizada no Rio Jamari, município de Candeias do Jamari Rondônia. Os projetos foram implantados de forma irregular trazendo transtornos aos ribeirinhos e para a população urbana. A falta de infraestrutura para abrigar um grande contingente de indivíduos em trânsito atraídos pelas grandes obras.
A leitura desta obra de Perdigão nos permite concluir que a região Norte entre outras do País ainda são vítimas de políticas públicas inadequadas que pecam na avaliação da realidade social e econômica singulares.
[1] PERDIGÃO, Francinete; BASSEGIO, Luiz. Migrantes amazônicos: Rondônia, a trajetória da ilusão. São Paulo: Loyola, 1992. 221 páginas.
[2] DAMACENO, Jaqueline Antunes. Acadêmica de Jornalismo, bolsista PIBEC do projeto de extensão:Comunicação e educação: a contribuição de narrativas imagéticas para a superação da degradação e desigualdade ambiental em Rondônia.